Um Menino Diferente, autobiografia da travesti Belle Dominique, é apresentada ao público no sábado, 4 de Junho, pelas 18h00 na Casa do Alentejo, em Lisboa, com intervenções de Manolo Bello, Moita Flores e João Malheiro.

A sessão terá música ao vivo com o grupo coral Os Arraianos, de Vila Verde de Ficalho, os tocadores de viola campaniça José Marques e Márcio Isidro, e o fadista Telmo Miranda, acompanhado pelo pianista Pedro Polónio.

Na mensagem de correio electrónico que Belle Dominique enviou esta semana, a convidar para a sessão, pode ler-se: “Venho por este meio participar o lançamento do meu livro, em comemoração dos meus 40 anos de carreira. Coisa bonita, acho eu. São muitos anos de saltos altos. Mas bem conseguidos. Felizmente.”

O livro tem prefácio do escritor Francisco Moita Flores e é dado à estampa pela Chiado Editora.

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Capa do livro Um Menino Diferente

Domingos Machado, o homem por detrás da personagem, nasceu em Moura, Baixo Alentejo, em 1950 e mudou-se para Lisboa aos 16 anos. Travestiu-se pela primeira vez em Dezembro de 1973, quando cumpria serviço militar no Ultramar, em Luanda.

“Tinham organizado uma festa de Natal no quartel e um camarada lembrou-se de fazer um concurso de misses. Mas, claro está, com homens. Veja-se bem o revolucionário que isto era: antes do 25 de Abril, um concurso de misses com homens num quartel”, recorda Domingos Machado numa entrevista incluída no livro Uma Década Queer (escrito pelo autor desta notícia).

Acrescenta: “Fui mobilizado para África, mas por acaso nunca andei no mato. Uma tropa de luxo. Estive em Luanda durante dois anos e só não foi mais porque entretanto se deu o 25 de Abril. Era radio-telegrafista e tinha uma vida civil muito activa.”

Já em Lisboa, torna-se transformista profissional a partir de Outubro de 1976, no bar Memorial, pela mão de Valéria Vanini, outro nome sonante do travestismo lisboeta.

Nos anos seguintes, evidencia-se no bar Ronda 77, no Estoril, onde cria o grupo Travecoop (o nome a demonstrar a época de colectivismo que Portugal vivia).

É entrevistado para a edição do jornal Sete de 21 de Fevereiro de 1980 e aí fala sobre as condições de trabalho e a história da personagem Belle Dominique.

Sete, 21 Fev 1980
Entrevista de Domingos Machado ao Sete em 1980

Ganhou em 1982 o Troféu Nova Gente para melhor espectáculo e melhor actor travesti desse ano. Na década de 90 tornou-se conhecido junto do grande público ao co-apresentar, com Júlio César, o programa Minas e Armadilhas, na SIC.

Funcionário da RTP, onde foi assistente de realização de programas de informação, incluindo o Telejornal, reformou-se no início dos anos 2000 e desde então tem tido aparições fugazes em espectáculos.